
Contos
João da Câmara
Publisher: Projecto Adamastor
Summary
O sol despedia os raios mais vividos. O suào aquecido nas cinzas das queimadas soprava abrazador. Via-se tudo em volta como atravez de vidros amarellos. O caminho era ruim, apenas indicado por velhos muros afogados em silvas e cheios de musgo como ferrugem, que lindavam as tapadas. No meio da estrada erguiam-se de espaäo a espaäo enormes panedos, que ainda{2} conservavam os furos das brocas, mostrando um trabalho abandonado de um dia para outro, falta de dinheiro, alguma eleiäào perdida. Massas enormes de granito esbranquiäado erguiam-se de uma e outra banda, umas por cima das outras, acastelladas. Por entre as pedras cresciam as giestas sequinhosas, cujo fructo crepitava abrindo-se aos beijos do sol e deixava caêr a semente na terra. Nos pontos mais elevados resahiam do tremulo azul celeste uns carvalhos rachiticos e tortos, que nào davam sombra. Elle caminhava alegre, estrada fïra, parando de vez em quando para escolher nos cachos das amoras, que relusiam ao sol, as menos maduras, avermelhadas, rijas, cujo acido lhe mitigava a sede. Ainda vinha com o seu bigode, com as caläas de linho e as botas pretas de soldado, em que brilhavam como lentejoulas os pedacinhos de mica do granito desfeito