Margens e Travessias
Boabentura Cardoso
«Boaventura Cardoso produziu um alto romance. Indelével o sentido poético difuso que o atravessa. Ouve-se a música do pensamento, a expressão de uma língua serena e vibrátil.»
Marco Lucchesi, escritor e Presidente da Academia Brasileira de Letras
Mensagem de Rita da Silva Cardoso, mãe do autor
«Nas bordas deste romance inscrevi parte do que fui escrevendo em pagelas. A história da minha amargura é longa; não posso contá-la toda, nem convém, para além de que não tenho já vida para guardar tan¬tas memórias. Pronto, fica assim. Que um dia se escreva a história das mães sofredoras como eu fui. De qualquer modo, meu filho, a ti que és escritor, confio estes papéis. Publica-os no momento oportuno; talvez seja melhor esperares que um dia acabe este caduco regime de ditadura democrática revolucionária…; faz tento nisso, Boaventura. De qualquer modo, levo comigo a dor das mães sofredoras, embora a dor delas seja maior; Fátima trouxe-me de volta o meu filho. Elas não tiveram essa sorte; elas choram até hoje a morte prematura de seus filhos. Levo co¬migo a dor delas − escreve isso, meu filho, na minha lápide onde repou¬sar para sempre. Agora, para não atrapalhar a vossa leitura, caro leitor, migro e transvoo para outras margens.»
«É um romance histórico em que a geografia também protagoniza a construção romanesca, cujas inúmeras travessias penetram margens submersas da história de Angola, ao mesmo tempo que, pela lingua¬gem da poesia, tecem uma “terceira margem” da estória.»
Cármen Lúcia Tindó Secco, autora e professora da Universidade Federal do Rio de Janeiro
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